Transtorno do Espectro Autista — definição, sinais e cuidado
Por Paulo de Carvalho, 17/04/2023.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), popularmente conhecido como “Autismo”, é uma condição que atualmente afeta cerca de 2% de toda a população brasileira (cerca de 2 milhões de pessoas). O TEA é uma condição de saúde caracterizada pelo déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não-verbal) e comportamento de interesse restritivo, ou hiperfoco e movimentos repetitivos.
Não há somente um modelo único de autismo, e é impossível colocá-lo dentro de um padrão pré-definido e engessado. Existem vários subtipos dentro do transtorno, sendo tão abrangente que o termo correto para o designar é “espectro” devido aos vários níveis de suporte que são necessários — além de doenças e condições associadas ao espectro (deficiência intelectual e epilepsia). Existem muitas pessoas independentes vivendo uma vida comum que, sem saber, são autistas sem jamais ter um diagnóstico.
Estudos indicam que as causas do autismo, mesmo que não definidas precisamente, são majoritariamente genéticas (cerca de 97% e 99%, sendo 81% hereditário), além de fatores ambientais (1% a 3%) ainda controversos, que também podem estar associados a idade paterna avançada, ou ao uso de ácido valpróico na gravidez. Atualmente existem 1.118 genes já mapeados e sendo estudados como possíveis fatores de risco para o transtorno (com 134 deles sendo os mais relevantes e com evidencias mais robustas).
Os sinais de autismo geralmente começam a aparecer a partir de um ano e meio de idade e, sendo possível que os sinais surjam ainda antes a depender do grau de gravidade. O acompanhamento se faz necessário, o diagnóstico precoce e o tratamento são muito importantes para o crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida de uma criança — mesmo que haja meramente uma suspeita.
Smas como irritabilidade, agitação, autoagressividade, hiperatividade, impulsividade, desatenção, insônia e outros podem ser tratados com medicamentos prescritos pelo médico. O mais indicado é a risperidona, pertencente a classe dos antipsicóticos atípicos, sendo o mais comum deles.
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, o tratamento psicológico mais eficiente atualmente é a “Terapia de Intervenção Comportamental”. A mais utilizada dessas terapias é a “ABA” (Applied Behavior Analysis) ou “Análise aplicada do comportamento. O tratamento é personalizado e interdisciplinar, tendo em visto as carências e necessidades específicas de cada autista, podendo beneficiá-los em diversos campos diferentes (como tratamento fonoaudiólogo, terapias ocupacionais e etc). No âmbito escolar, um mediador pode trazer grandes benefícios no aprendizado e na interação social.
Atualmente não existem exames de imagem ou laboratoriais que sejam definitivos para diagnosticar o TEA. O diagnóstico é clínico feito por um médico.
2 de abril — Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Em 2007, a ONU declarou todo dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, com cartões-postais do mundo todo iluminados de azul — cor escolhida graças a proporção de existir, em média, 4 homens para cada mulher com TEA. O símbolo do autismo é o quebra-cabeça, que denota sua diversidade e complexidade — criado em 1963 pela National Autistic Society, no Reino Unido.
No dia 18 de junho é comemorado o “Dia do Orgulho Autista”, representado pelo símbolo da neurodiversidade (o infinito com o espectro de cores do arco-íris). A partir deste entendimento, considera-se o autismo como identidade, uma característica da pessoa — data celebrada originalmente em 2004 pela organização britânica Aspies for Freedom (AFF).
Quais são os principais sinais de autismo?
- Não manter contato visual por mais de 2 segundos;
- Não atender quando chamado pelo nome;
- Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
- Alinhar objetos;
- Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
- Não brincar com brinquedos de forma convencional;
- Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
- Não falar ou não fazer gestos para mostrar algo;
- Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
- Não compartilhar seus interesses e atenção, apontando para algo ou não olhar quando apontamos algo;
- Girar objetos sem uma função aparente;
- Interesse restrito por um único assunto (hiperfoco);
- Não imitar;
- Não brincar de faz-de-conta;
- Hipersensibilidade ou hiper-reatividade sensorial.
Apenas três destes sinais justificam uma suspeita e uma necessidade clínica de se consultar um neuropediatra ou um psiquiatra da infância e da juventude. A avaliação é obrigatória para crianças a partir de 18 meses de vida, e as consultas pediátricas podem ser realizadas pelo SUS, segundo a lei 13.438/17.
Números e informações sobre autismo no Brasil e no mundo
- O termo “transtorno do espectro do autismo” passou a ser usado a partir de 2013, na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, publicação oficial da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, quando foram fundidos quatro diagnósticos sob o código 299.00 para TEA: Autismo, transtorno desintegrativo da infância, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação e síndrome de asperger. Na atual Classificação Internacional de Doenças, a CID-11, o autismo recebe o código a 6A02 (antigo F84, na CID-10), atualizada em junho de 2018, também sob o nome de TEA.
- Aproximadamente um terço das pessoas com autismo permanecem não-verbais (não desenvolvem a fala) — conforme estudos de 2005 e 2012.
- Estima-se que um terço das pessoas com autismo tem algum nível de deficiência intelectual.
- Há algumas condições clínicas associadas ao autismo com mais frequência, como: distúrbios gastrointestinais, convulsões, distúrbios do sono, transtorno de déficit da atenção com hiperatividade (TDAH), ansiedade e fobias — segundo estudos de 2012, 2017 e 2018.
- Em 2007, a ONU decretou todo 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo ( em inglês, World Autism Awareness Day), quando vários cartões-postais do mundo iluminam-se de azul em prol da causa para chamar a atenção da sociedade ao tema, como o Cristo Redentor, no Brasil, o Empire State, nos EUA, a CN Tower, no Canadá, a Torre Eiffel, na França, as pirâmides do Egito, entre outros.
- No Brasil, a “Lei Berenice Piana” — Lei 12.764, de 2012, que criou a política nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro do autismo, regulamentada pelo Decreto 8.368, de 2014 — garante os direitos dos autistas e os equipara às pessoas com deficiência.
- Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo (CDC, na sigla em inglês: Centers for Disease Control and Prevention) estima a prevalência de autismo em 1 a cada 36 crianças naquele país — números divulgados em 23.mar.2023, referentes a dados de 2020. O número de meninos é 3,8 vezes maior que o de meninas.
- Estudos na Ásia, Europa e América do Norte dão conta de números entre 1% (1 para cada 100) e 2% (1 para cada 50) com autismo.
- A ONU, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), considera a estimativa de que aproximadamente 1% da população mundial esteja dentro do espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico ainda.
- No Brasil, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes (ou 27,2 por 10.000) — liderado pelo médico pesquisador Marcos Mercadante, a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes da cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas.
- Um mapa online, do site Spectrum News, traz todos os estudos científicos de prevalência de autismo publicados em todo o planeta.
- Sobre autismo em adultos, o CDC publicou um estudo no ano passado (2022) que estima haver 2,2% da população dos Estados Unidos no espectro do autismo acima dos 18 anos, com dados referentes ao ano de 2017 (quase 5,5 milhões de autistas). Essa prevalência de adultos norte-americanos com TEA variou de 1,97% no estado de Louisiana a 2,42%, em Massachusetts. Os estados com o maior número absoluto estimado de adultos autistas são: Califórnia (701.669), Texas (449.631), Nova York (342.280) e Flórida (329.131). No Brasil não há números de autismo em adultos.
- Estima-se que, a cada ano, cerca de 50 mil jovens com TEA cruzam a maioridade dos 18 anos nos EUA. No Brasil não há números a esse respeito.
- Um estudo da Autism Speaks, em 2012, aferiu o custo anual do autismo para os EUA, de US$ 126 bilhões, e para o Reino Unido, £34 bilhões (US$ 54 bilhões).
- A idade média de diagnóstico nos EUA é de 4 anos de idade, segundo estudo de 2018 em 11 estados. No Brasil, um estudo-piloto somente na cidade de São Paulo (SP), também em 2018, chegou ao número de 4 anos e 11 meses e meio (4,97) como idade média de diagnóstico de autismo, mas com uma variação bem grande — mais estudos devem ser feitos.
- Pesquisas apontam que 18% a 39% das pessoas com síndrome de Down tenham autismo também — segundo a NDSS (National Down Syndrome Society, dos EUA).
- Há síndromes e outros transtornos neurológicos de origem genética ligados ao autismo como: Síndrome de Rett, CDKL5, Síndrome de Timothy, Síndrome do X Frágil, Síndrome de Angelman, Síndrome de Prader-Willi, Síndrome de Phelan-McDermid, entre outras.
- Segundo pesquisa global de 2019, com mais de 2 milhões de pessoas, de 5 diferentes países, de 97% a 99% dos casos de autismo podem ter causa genética, sendo 81% hereditário; e de 1% a 3% apenas podem ter causas ambientais, ainda controversas, como, a idade paterna avançada ou o uso de ácido valpróico na gravidez. Existem atualmente mais de mil genes já mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno, sendo 134 os principais genes.
FONTE:
CANALAUTISMO: o que é autismo? 2023. Canal Autismo. Disponível em: . Acesso em: 10 de ab. de 2023.
TISMOO: Nova classificação de doenças, CID-11, unifica Transtorno do Espectro do Autismo: 6A02, 2022. Tismoo. Disponível em: . Acesso em: 10 de ab. de 2023.
UNITED NATIONS: Disponível em: < https://www.un.org/en/observances/autism-day>. Acesso em: 10 de ab. de 2023.
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